No sábado (10/08/2024), o Brasil se despediu de Tuíre Kayapó, uma das mais icônicas lideranças indígenas do país. Aos 54 anos, Tuíre perdeu a batalha contra um câncer de colo de útero, mas seu legado de resistência permanece vivo. Reconhecida mundialmente por seu ato de coragem em 1989, quando, durante uma audiência pública, pressionou um facão contra o rosto do presidente da Eletronorte em protesto contra a construção da usina de Belo Monte, Tuíre se tornou um símbolo de luta pela defesa dos direitos indígenas e pela preservação ambiental.
A história de Tuíre Kayapó e seu gesto audacioso transcendeu o Brasil, tornando-se um marco na defesa dos territórios indígenas e na resistência contra a devastação ambiental. Na época, Tuíre tinha apenas 19 anos, mas sua postura firme e decidida paralisou as obras da usina por duas décadas. O projeto, que inicialmente desconsiderava as comunidades indígenas e o meio ambiente, foi revisado e, eventualmente, transformado na controversa usina de Belo Monte.
A repercussão de seu ato foi imediata, ecoando nas vozes de líderes e ativistas ao redor do mundo. A imagem de Tuíre com o facão em riste se tornou um símbolo da luta indígena, não como um ato de violência, mas como um grito de indignação e de defesa da vida e do respeito à natureza. Sua coragem inspirou gerações e reforçou a importância de ouvir e respeitar os povos indígenas em decisões que afetam seus territórios e modos de vida.
A morte de Tuíre Kayapó ocorre 36 anos após o assassinato de outro grande líder da resistência no Brasil, Chico Mendes. O seringueiro, brutalmente morto em 1988 aos 44 anos em Xapuri, no Acre, dedicou sua vida à defesa da Amazônia e dos direitos dos seringueiros. Sua luta contra a destruição da floresta e a exploração desenfreada dos recursos naturais também deixou um legado imortalizado em canções e na memória coletiva.
Assim como Tuíre, Chico Mendes viveu e lutou no Norte do Brasil, uma região frequentemente esquecida pelos centros de poder, mas que carrega em si a riqueza natural e cultural de um país diverso e complexo. Ambos os líderes, embora de origens e causas distintas, uniram-se pelo respeito à vida e pela defesa da terra, deixando um legado que ultrapassa as fronteiras do tempo e do espaço.
No artigo “O facão da liberdade e do respeito”, publicado nesta segunda-feira (12/08/2024) no Jornal Grande Bahia, o jornalista e secretário de Comunicação Social da Bahia, André Curvello, reflete sobre o impacto desses dois ícones na luta pela preservação ambiental e pelos direitos humanos.
Curvello ressalta como, em tempos de informação instantânea e superficialidade, as histórias de Tuíre e Chico Mendes nos lembram da importância da resistência e do compromisso com o outro.
Em seu texto, Curvello critica a banalização dos fatos e a perda do senso crítico na sociedade atual, onde a velocidade da informação tem se sobreposto à qualidade do conteúdo.
Para ele, os veículos de comunicação, obcecados pela audiência e pelos cliques, têm negligenciado sua responsabilidade social, contribuindo para a formação de uma sociedade cada vez mais rasa e polarizada.
A mensagem deixada por Tuíre Kayapó e Chico Mendes é clara: a luta pela vida, pelo respeito e pela preservação da natureza não pode ser esquecida. Eles enfrentaram o poder e a devastação com coragem, deixando uma contribuição autêntica para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito. Seus legados continuam a ecoar, inspirando aqueles que ainda hoje resistem e lutam por um mundo mais justo e sustentável.
Homenagens póstumas
Tuíre Kayapó, liderança indígena da Terra Las Casas, faleceu aos 54 anos no Pará após uma batalha contra o câncer de colo de útero. Conhecida por seu ato de resistência em 1989, quando pressionou um facão contra o rosto do presidente da Eletronorte em protesto contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, Tuíre se tornou um ícone na defesa dos direitos indígenas e na luta pela preservação ambiental. Sua imagem ganhou repercussão mundial, e o projeto da hidrelétrica, inicialmente chamado de Kararaô, foi interrompido e posteriormente renomeado para Belo Monte, com as obras sendo adiadas por 22 anos.
A morte de Tuíre gerou uma onda de homenagens e notas de pesar. A Federação dos Povos Indígenas do Pará destacou o legado de coragem e determinação deixado por Tuíre, enquanto a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) lembrou seu gesto histórico como um ato de resistência que marcou a história do Brasil.
Nascida em 1970, no território Kayapó, Tuíre foi uma das primeiras ativistas indígenas mulheres e participou de inúmeras manifestações em defesa dos territórios indígenas e da floresta, sendo uma voz importante contra o Marco Temporal.
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